Laudelina de Campos Melo dedicou sua vida para defender os direitos das pessoas negras e das trabalhadoras domésticas. Nasceu em Poços de Caldas, Minas Gerais, em 1904, dezesseis anos após a Lei Áurea. Seus avós eram pessoas escravizadas. Laudelina começou a exercer trabalho doméstico remunerado por volta dos 16 anos, mas desde os 7, já desempenhava este papel em sua própria casa, enquanto sua mãe trabalhava como lavadeira em um hotel.
Após a abolição da escravidão, houve a massiva entrada de imigrantes europeus para substituir a mão-de-obra que antes era majoritariamente escravizada no Brasil. As políticas oficiais de embranquecimento pretendiam apagar a presença negra no país. Durante a virada do século XIX para o XX, mulheres conquistaram uma série de direitos na sociedade. Entretanto, conforme destaca a historiadora Bebel Nepomuceno, citada em artigo do LEHMT*, o protagonismo das mulheres negras foi ignorado.
O emprego doméstico foi regulamentado por lei somente no ano de 2015, quase cem anos após a atuação de Laudelina. Laudelina foi pioneira na luta para garantir mais dignidade para as mulheres negras. Foi militante de associações negras de São Paulo e membro da Frente Negra Brasileira na década de 1920. Em 1936, ela fundou a Associação Profissional dos Empregados Domésticos de Santos.
Em 1961, ela fundou a Associação Profissional Beneficente das Empregadas Domésticas de Campina, sediada no Sindicato da Construção Civil, em Campinas. As demandas principais eram o direito à sindicalização e a equiparação dos direitos com os demais trabalhadores.
Nos dias de hoje, esta ocupação é ainda predominante entre as mulheres negras. Segundo o IBGE, em 2022, mulheres representaram 92% de trabalhadores(as) domésticos(as) no Brasil, das quais 65% são negras.
Quando uma mulher avança, toda a sociedade avança. Durante o mês de março, resgatamos histórias de mulheres comuns e extraordinárias, que dedicaram suas vidas na busca por uma sociedade mais justa.
Artigo de Luciana Wollmann, Samuel Oliveira e Claudiane Torres da Silva, para o LEHMT (Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho)